terça-feira, 23 de agosto de 2016

No tempo dos ipês

Teu rosto.
Teu sorriso.
Brotam nessas inflorescências coloridas da beira da estrada.
Eu sempre te associo com a natureza.
Com flores.
Com chuva.
Com a beleza dessas coisas simples que ganhamos de presente do mundo.
Com a vida que nasce nos lugares mais improváveis.
Como o amor.

Eu não posso te colher do jardim onde estás plantada.
Não posso te comer como quem come um jambo
no tempo dos jambos.
Como quem come uma manga no tempo das mangas.
Não posso engarrafar teu suor para tomar quando me sentir sozinho.
Não posso comprar teu cheiro e me encharcar como se fosse
 um patchoulie medicinal.

Só posso querer.
E ter fantasias de outras existências.
Onde eu serei o teu amor.
Onde tu não serás mais essa coisa inatingível.
Essa orquídea rara em árvore alta.
Essa deusa onipresente no meu peito.

Mas somente uma mulher.

Não!
Tu nunca será somente uma mulher.
Nem nessa vida, nem nas outras, nem nas inventadas.

E essas flores malditas somente desabrocham para zombar de mim.
Porque me fazem lembrar do teu sorriso.




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