segunda-feira, 22 de julho de 2019

Casal Apocalipse




Quando vejo uma ruína me pergunto:
Te encontrei aqui?
Será que te beijei naquele prédio demolido?
Será que te abracei nessa rua que a cratera engoliu?
No pátio do mercado falido
Te apertei contra o meu peito
Sem ter piedade dos funcionários desempregados
Porque onde teimamos em nos ver:
Todos os lugares.
Todas as construções.
Todas as cidades.
Pagaram.

Nossa felicidade é convertida em destruição ruidosa
Os carros batem.
Os motores explodem.
O céu desaba em tempestade furiosa.
Os rios alagam em dilúvios colossais.
Vulcões ensandecidos.
Terremotos separando as placas continentais.

Nós saímos quase imunes.
Somente algum arranhão,
 hematomas,  
vermelhidão,
perda dos sentidos,
lábios arroxeados
e o coração
partido.


Todo silêncio


Todo silêncio é uma bomba nuclear.
Dizimando a vida.


Todo silencio é barco a naufragar.
Beleza perdida


Todo silencio é cachoeira a secar.
É água poluída

Todo silencio é teu lábio cerrado
É tempo de chuva
É trapo
É farrapo
De esperança.

Eu sou o jardineiro inábil.


Eu sou o jardineiro inábil.
Imprudente, atordoado.
Cultivo gramíneas
e corto rosas pelo talo.
Pelo caule.
Rego ervas daninhas
E mato desidratado
O verde de todo o vale

Do amor
Eu sou
O ceifador

E não mereço colher
A orquídea de Kinabalu
No caminho dourado
Da felicidade

Viver
O sonho
Como?
Se eu sou o jardineiro inábil

Do amor
eu sou
o ceifador

Não posso segurar teu coração.
Eu retalho
com minhas mãos de tesoura
com meus dedos de navalha
estraçalho
qualquer possibilidade de colheita

Eu sou o jardineiro inábil
E trago a promessa
de terras estéreis,
Inférteis,
concretadas.

Eu habito um mundo subterrâneo
Eu sou como as raízes
Sustentando a superfície verde
Na qual outros serão felizes.

N escuro da minha condição
Na solidão da minha inabilidade
Eu não mereço colher
A orquídea de Kinabalu
No fim do caminho dourado
Da felicidade