quinta-feira, 12 de novembro de 2020

 Sento para refletir

E saborear tudo que está escrito.

Escrito sem receita, sem forma, sem medida.

Palavras de algodão doce.

Palavras são como sementes.

Fazem brotar pés de goiaba, salas, prédios

e jardins secretos.

Palavras bipolares.

Servem como piadas ridículas.

Pisoteadas pelo mundo real.

Contudo. Olhando com lupa:

Palavras multicoloridas.

Palavras Pancromáticas.


 Para que refletir?

Se nunca mais existirão risadas, histórias

e nem palavras de algodão doce derretendo na boca.

Nunca mais pés de goiaba, salas, prédios etéreos

jardins, rosas, girassóis, orquídeas e nevoa de sonho.


Pela janela vejo um homem que apara o capim

com laminas afiadas.

Ele corta pela raiz. É tudo muito rápido.

Passa a lamina e de imediato o capim está sem vida.

Nada de fotossíntese.


Quem somos nós para resistir as laminas da realidade.

Quem pensamos que somos.

Somos só capim no vento.

Somos só palavras num poema sem métrica.

Somos só fonemas num verso sem rima.


Ainda assim, sendo insignificantes, temos dentes e fúria.

E ira guardada. E gana de morder e abraçar mais do que cabe nos braços.

Eu paro para refletir. O homem está terminando com o gramado: não restaram flores.

Guarda essas palavras para ler e rir, nos dias em que estiver entediada.





sexta-feira, 10 de julho de 2020

1979



Ei!
Olha lá.
Os girassóis rodopiam.
Senta.
Vamos sonhar.

Calma quando voar
Os girassóis nos vigiam.
Senta
Eles querem te roubar

Corre
pelo caminho da felicidade.
Salta. Sem arrependimento
Destruirão a cidade
Neste exato momento

Sussurra.
Inflama.
Fremula.
Sem açodamento

Os deuses podem despertar
com seu
ressentimento

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Para quê mais um dia no mês de fevereiro

Tanta chuva desperdiçada
Tanta tarde de abril para nada
Tanta água escorre pela calçada
Tanto querer

Tanta janela até tarde iluminada
Tanta solidão nas paredes infiltrada
Tanta emoção tolhida, encapsulada
Tanto correr

Tudo alagado no quintal
Tudo é levado pela cheia colossal
Para quê mais um dia no mês de fevereiro
Tanta tristeza inunda o carnaval
Tento entender

O Sol é Quase Eterno

Nosso amor é o pássaro
de alas abertas no céu
sustentado na amplidão
pelas térmicas e pelo véu
de sólidas nuvens de algodão

Ave linda e arredia
endêmica dessas matas
Nosso amor é a fera que rasga
com garras navalhais
tenras carnes cordiais

A proteção de lata
de armaduras medievais
nada pode contra a pata
do amor que rapina e mata
pequenos e frágeis animais

Eu fito o horizonte com medo
do ataque predador
de costas para o sol, o amor
mergulha em posição marcial

Arranca meus olhos e come
Te leva para longe, some
deixando escuridão e dor
e já não posso admirar o esplendor
das plumas do nosso amor

Ave arredia e rara
Que migrou para o tão distante
escuro e causticante
mundo do acabou

Mas o sol é quase eterno
e depois de todo inverno
ressurge pelas planícies
campos, jardins e pântanos

Do mundo que inventamos
Voando leve, faceiro, o amor
lembrando ao coração
Não! nunca passou.