sábado, 12 de agosto de 2023

Noites no Laranjal

 Me encanta o movimento das embarcações

a leveza dos pássaros

a falta da cerimônia dos aviões.

O amor também voa.

Levita.

E vai para longe.

 

Sim. Sempre fica algo de amargura

Porque somos humanos e sem graça

E é feito de vidro o coração.

Caiu da mão: estilhaça.


Bibelô de estante.

Cacos de saudade que super bonde não re-une.

um sangrar não estanque

 

Sim. Sempre fica um entalo na garganta.

Porque somos humanos

E o choro de ternura transmuta em lágrimas de ódio.

 

O barco balança e não aderna.

O casal dança, rodopiando

O dia vem como lanterna. 

As sombras dançam na parede da caverna.

Balançamos também.

 

Sim. Sempre  fica algo de insatisfação

Porque somos humanos 

e queremos mais do que o pouco que fica

Queremos tudo

Queremos as bolinhas de leite em pó 

no fundo da xícara.

 

A certeza de agora é a decepção de daqui a pouco.

Porque a vida projetada para amanhã atrai 

mais do que a migalha agora vivida.


O passarinho, ali fora, canta

Não se pergunta o motivo.


Se beijo na rosa não me pergunte o motivo

Se te mordo na carne não me pergunte o motivo

Não se pergunte o motivo.

 

Sim. Sempre há algo de fúria

Porque somos humanos


Não contamos estrofes

Tropeçamos nas rimas.

Nos embriagamos dos versos

Nos encharcamos de brisa.

 

O avião estronda no céu

volto a realidade


Se sugo a rosa rubra com fervor 

não me pergunte o motivo


Se te mordo a carne rija com frenesi

não me pergunte o motivo

Sempre há algo de ira.


Não me pergunte o motivo 

Não se pergunte o motivo.


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