Me encanta o movimento das embarcações
a leveza dos pássaros
a falta da cerimônia dos aviões.
O amor também voa.
Levita.
E vai para longe.
Sim. Sempre fica algo de amargura
Porque somos humanos e sem graça
E é feito de vidro o coração.
Caiu da mão: estilhaça.
Bibelô de estante.
Cacos de saudade que super bonde não re-une.
um sangrar não estanque
Sim. Sempre fica um entalo na garganta.
Porque somos humanos
E o choro de ternura transmuta em lágrimas de ódio.
O barco balança e não aderna.
O casal dança, rodopiando
O dia vem como lanterna.
As sombras dançam na parede da caverna.
Balançamos também.
Sim. Sempre fica algo de insatisfação
Porque somos humanos
e queremos mais do que o pouco que fica
Queremos tudo
Queremos as bolinhas de leite em pó
no fundo da xícara.
A certeza de agora é a decepção de daqui a pouco.
Porque a vida projetada para amanhã atrai
mais do que a migalha agora
vivida.
O passarinho, ali fora, canta
Não se pergunta o motivo.
Se beijo na rosa não me pergunte o motivo
Se te mordo na carne não me pergunte o motivo
Não se pergunte o motivo.
Sim. Sempre há algo de fúria
Porque somos humanos
Não contamos estrofes
Tropeçamos nas rimas.
Nos embriagamos dos versos
Nos encharcamos de brisa.
O avião estronda no céu
volto a realidade
Se sugo a rosa rubra com fervor
não me pergunte o motivo
Se te mordo a carne rija com frenesi
não me pergunte o motivo
Sempre há algo de ira.
Não me pergunte o motivo
Não se pergunte o motivo.
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