I
A poesia é só um aspecto da vida.
A carne também chama.
As vezes andam juntas.
As vezes apartam.
Lugares são especiais para quem atribui significado
E decide que são especiais.
Lugares são só lugares.
Pessoas são só pessoas.
Maçãs são iguais a maçãs.
A vida é essa coleção de lugares.
Esse circo de pessoas aplaudindo o vazio.
Essa torre onde ninguém se entende.
Esse cesto de maçãs carmesim.
A vida é só a vida.
Um filete de luz incandescente
Que um fio desencapado apaga.
É o brilho que se perde numa chuva fina.
Qual a cor da noite de amor e fogo.
Qual a cor da distância.
Qual a cor do relâmpago.
Qual a cor do raio que mal se vê e já apagou.
A vida é essa coleção de cores, raios, relâmpagos, girassóis, distância e sonhos.
O sonho é um farsante que finge que dança
Por entre retalhos da fantasia de arlequim
II
O mundo está pintando cor de melancolia
Matizes desbotadas. Cores antigas.
O mundo é goles, sinople, blau, sable.
Cor de goiaba, cor do sofá da sala, verde camuflado.
Vermelho-azul, purpura-sangue, rouge-rosado.
Punhal de prata nesse jardim
O mundo tem o cheiro do teu cabelo dourado
A cor dessa noite é carmesim
III
Por onde me levar a caminhada
Te levarei comigo
Na subida longa
Na descida rápida
Na queda
No vôo para o sol
Te levarei comigo
Te levarei comigo de arroubos
De chofre, de chiste
Te levarei porque sou antigo
Sou hoje. Sou ontem. Sou o que resiste
Sou a noite do esquecimento
Sou poeira na poeira do tempo
Sou o que se renova para manter-se velho
Escrevo sobre lugares, pessoas, maçãs e momentos
Porque sim
Nenhum comentário:
Postar um comentário