sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Quase um Soneto

Arrasto minha carcaça
nesse pântano lodoso
Montado no destino
rocinante

Deliro na carapaça
de monstro escabroso
Talvez a maldição de algum
necromante

Tu vens, brilhante, estrela encarnada
No caminho alvo, tingido de doirado
Pelo sol da tarde, calma
alucinante

Ou sou eu que sonho
pelo pântano, enfeitiçado

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Intimidade no sofá da sala dos morcegos

A água cai do céu
parece a tela da tv fora do ar.
A chuva é o mundo fora do ar.
Passa o teu sorriso na boca de outra mulher.
Mas não era o original.
A chuva sou eu fora do ar.
Sabe a nossa intimidade?
Aquelas conversas. As história das vida dos parentes?
A chuva me levou para a sala dos morcegos
E me veio a memória aquilo tudo.
Memória!
Que desgraça é a memória.
Vamos levando para todos os lados caixas e caixas e caixas e momentos bons.
Enquanto chovem dos céus facas, adagas, cimitarras, catanas de péssimas recordações.
Foda-se tudo!
Nenhum bisturi pode remover o teu sorriso das minhas pálpebras.
E toda vez que eu fecho os olhos
eu sou feliz.
E rio sozinho.  

Sementes de Mundos.

Eu escrevo para desaguar esses sentimentos.
Escrevo para dar vazão.
Não é tanto a qualidade literária dos escritos
porque resistem pouco a qualquer análise.
Mas pelos sentimentos impregnados nas letras virtuais.
Escrevo porque ninguém se interessa em entrar nesse ambiente.
E os que entrarem nessa piramide nunca decifrarão os hieroglifos dessas paredes.
Dessa ilha. Dessa terra particular
construída por nós.

Eu penso as vezes que tudo é insignificante.
Que tudo pode ruir pois se sustenta em colunas
que a isostática não pode explicar.
Nessas colunas abaladas por forças descomunais
a saturação, o cisalhamento, o estress das peças parece inevitável.
Mas de repente eu me vejo chorando em uma ruazinha deserta.
E vejo que a elasticidade do material utilizado na fabricação desse mundo
e maior do que cabe na compreensão.

Porque é um mar que não seca.
É uma nascente de sentimentos.
Vai passar, vai passar, vai passar.
E não passa.
É como a constante sensação de cair.
Mas o fundo não chega e a aflição da queda não passa.

Escrevo para complicar, para demolir, para bagunçar.
Já desisti de tentar entender e os livros que venho lendo não trazem
uma unica formula que me dê solução.

Para quem lê de fora dessa terra
esses escritos são o tempo perdido de algum desocupado.

Mas para os dois únicos habitantes desse cometa furioso
as palavra ganham contornos dramáticos.
E na construção do texto não cabe rima, nem métrica, nem coesão
nem lógica, nem hora certa.
Porque a própria desordem das palavras espelha a falta de sentido.

E para que me serve a vida lá de fora.
Se eu so consigo ser feliz sendo completamente triste.
E que me importa se é uma contradição.
Contradições so existem no mundo palpável.
Esse aqui é o inventado.
É o mundo construído sobre bases irreais

Eu escrevo.
Eu desenho e vou colorindo os momentos
com palavras.
Com palavras.
Com as palavras:
Sementes de mundos.






segunda-feira, 22 de julho de 2019

Casal Apocalipse




Quando vejo uma ruína me pergunto:
Te encontrei aqui?
Será que te beijei naquele prédio demolido?
Será que te abracei nessa rua que a cratera engoliu?
No pátio do mercado falido
Te apertei contra o meu peito
Sem ter piedade dos funcionários desempregados
Porque onde teimamos em nos ver:
Todos os lugares.
Todas as construções.
Todas as cidades.
Pagaram.

Nossa felicidade é convertida em destruição ruidosa
Os carros batem.
Os motores explodem.
O céu desaba em tempestade furiosa.
Os rios alagam em dilúvios colossais.
Vulcões ensandecidos.
Terremotos separando as placas continentais.

Nós saímos quase imunes.
Somente algum arranhão,
 hematomas,  
vermelhidão,
perda dos sentidos,
lábios arroxeados
e o coração
partido.


Todo silêncio


Todo silêncio é uma bomba nuclear.
Dizimando a vida.


Todo silencio é barco a naufragar.
Beleza perdida


Todo silencio é cachoeira a secar.
É água poluída

Todo silencio é teu lábio cerrado
É tempo de chuva
É trapo
É farrapo
De esperança.

Eu sou o jardineiro inábil.


Eu sou o jardineiro inábil.
Imprudente, atordoado.
Cultivo gramíneas
e corto rosas pelo talo.
Pelo caule.
Rego ervas daninhas
E mato desidratado
O verde de todo o vale

Do amor
Eu sou
O ceifador

E não mereço colher
A orquídea de Kinabalu
No caminho dourado
Da felicidade

Viver
O sonho
Como?
Se eu sou o jardineiro inábil

Do amor
eu sou
o ceifador

Não posso segurar teu coração.
Eu retalho
com minhas mãos de tesoura
com meus dedos de navalha
estraçalho
qualquer possibilidade de colheita

Eu sou o jardineiro inábil
E trago a promessa
de terras estéreis,
Inférteis,
concretadas.

Eu habito um mundo subterrâneo
Eu sou como as raízes
Sustentando a superfície verde
Na qual outros serão felizes.

N escuro da minha condição
Na solidão da minha inabilidade
Eu não mereço colher
A orquídea de Kinabalu
No fim do caminho dourado
Da felicidade